segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A ARTE DO BARRO

A ARTE DO BARRO: MOSTRA DE ANGELA XAVIER NA CASA DOS CONTOS

Uma ceramista que ama contar histórias, seja na oralidade, seja através de livros que vem escrevendo vida afora. Viajar, prestar atenção em cada passo do ser humano, tudo se soma ao dia-a-dia de quem se encanta com toda a arte criada pelo homem.
Natural de Pará de Minas, Angela Xavier mudou-se para Ouro Preto nos anos de 1970, e assim que pode foi viver fora do país. Conheceu o Peru e a Bolívia e foi lá que conheceu José Efigênio Pinto Coelho, com quem se casou e teve três filhos.
A vida como ceramista começou com o prazer de usar as mãos para criar pães e outras delícias culinárias. Assim Angela passou a modelar a menina que foi um dia, seja brincando em balanços, ou numa roda de primas, escravos de Jó jogando caxangá... Hoje são seus netos o motivo de tanto encantamento. Bruxas, fadas, peixes, aves, panelas e o que mais servir para seu mundo de cores e muita música.
Viver para Angela é dar vida a toda a arte que se pode criar. Recentemente chegou de uma viagem de 40 dias pelo México. Viu tanta beleza que hoje reflete na sua nova fornada de cerâmica. Tem de tudo nesse universo da Arte do Barro.
Na mostra rocalhas, conchas e corais do fundo do mar de todo o universo. Meninas brincando e crianças nas sacadas são a cara de Ouro Preto de sempre. Africanos com seus colares e brincos e roupas de querer copiar. Muitos bichos e todos os pássaros. Instalados na galeria de arte da Casa dos Contos, quem admira a arte do barro, vai se encantar também. Crianças e adultos podem chegar juntos.
O que uma contadora de histórias é capaz de mostrar através da cerâmica é uma surpresa atrás da outra. Vale conferir.
                                                      Malluh Praxedes - curadora da mostra

Mostra: A Arte do Barro, de Angela Xavier
Local: Casa dos Contos
Endereço: Rua São José, Ouro Preto
Data: 17 de novembro a 8 de dezembro de 2016



A Arte do Barro








terça-feira, 26 de julho de 2016

México 2ª parte

                                                    UM TOUR INESPERADO

Ah! Ciudad de México! Megalópolis de 25 milhões de habitantes, muitos segredos e mistérios, acima e debaixo do chão! Todos os problemas de uma grande cidade, mais o afundamento progressivo dos edifícios construídos sobre região lacustre. Teotihuacán foi construída numa ilha no lago Tezcoco onde os mexicas tiveram a visão indicada pelo seu deus: a águia pousada sobre um cacto trazendo no bico uma serpente. Ai deveriam construir sua cidade e prosperar. Este símbolo está hoje na bandeira do México e por toda parte. Quanto tempo é necessário para se conhecer a alma deste lugar? Sua história está escrita em cada rua, nas placas nominativas, nas pedras de cada edifício, nos cheiros das tortillas e quesadillas na chapa em cada esquina, nos sons dos tambores e dos realengos que nunca param.
Descobrimos que as lojas só abrem depois das 10 horas, que o horário brasileiro é duas horas depois do mexicano, que neste país só se almoça depois das 14 horas!  No nosso primeiro dia saímos do hotel com o dia escuro, ruas desertas, lojas fechadas. Voltamos. vimos TV para esperar o horário mexicano coincidir com o nosso. Ver tv em outro país é muito bom para conhecê-lo melhor. Uma observação interessante: nas ruas só vimos gente com cara dos povos originários do México, mas na tv só tem europeu. Quando ligamos pensei que era um canal espanhol.
Após o café da manhã saímos enfim, em direção à Zócalo ansiosos por  começar a visitar os museus e sítios históricos. Qual não foi nossa surpresa ao sermos informados de que, nas segundas feiras, nada abre. É verdade! No Brasil é o mesmo. Que fazer? Nos foi oferecido um tour em uma van que sairia em meia hora, 500 pesos por pessoa com um roteiro intenso: Tlateloco, uma loja de prataria, Basílica de Guadalupe e após as 12 horas, Teotihuacán. Topamos. Às 9:15m  tomamos a van junto com vários turistas, quase todos argentinos e partimos para nosso "recojido".
Nossa primeira parada foi Tlateloco. Eu havia lido anteriormente que ali foi a última batalha entre os mexicas e espanhóis. O rei Cuauhtémoc à frente dos guerreiros astecas foi derrotado e feito prisioneiro. Ali se acabou o Império Asteca e começou a destruição de Tenochtitlan. Hoje existe aí uma praça chamada Plaza de las Tres Culturas por simbolizar a cultura pré-hispânica, a espanhola e a mestiça. As ruínas de Tlateloloco, um templo de Santiago e uma torre moderna onde fica o Centro Cultural Universitário. Eu tinha especial interesse em ver de perto as ruínas do antigo império mas o roteiro de nosso guia priorizava a visita ao templo e o relato da aparição da Virgem de Guadalupe. Estas excursões têm este problema. O tempo é reduzido e você não pode circular à vontade. Paciência! Terei que voltar ao México!


Próxima parada foi uma loja de joias, prataria e pedras preciosas. Uma maravilha. Tomamos uma tequila enquanto ouvíamos as explicações do joalheiro sobre seu trabalho. Além de joias lindíssimas com motivos astecas, tem muitas esculturas de prata incrustadas com pedras representando guerreiros e reis dos povos pré-hispânicos.


Parada seguinte: Basílica da Virgem de Guadalupe. Antes de entrarmos na basílica passamos por uma loja onde eram vendidos artigos religiosos. Um rapaz mostrou o manto da Virgem e explicou de que era feito, os símbolos que contém e como a imagem da virgem apareceu nele. Em 1531, o índio, batizado Juan Diego, passava pelo morro Tepeyac onde havia um templo à deusa Tonantzin, a mãe muito querida dos astecas. De repente apareceu diante dele uma senhora com um manto azul enfeitado de ouro. Ela lhe falou em nauátl e pediu que Juan Diego procurasse o bispo Zumarraga, dissesse a ele que a Virgem Maria lhe apareceu e pediu que fosse construído naquele local um templo para ela. Este bispo foi o que destruiu todas as imagens dos deuses dos povos pré-hispânicos, queimou seus livros  e proibiu tudo o que se usava nos seus rituais, inclusive os cantos e o incenso de copal. Para ele tudo era coisa do diabo conforme as crenças da Europa medieval. O bispo não acreditou num simples índio e pediu provas.  Numa nova aparição a Virgem disse a Juan Diego que fosse colher rosas num local e época impossíveis. Ele seguiu suas instruções e encontrou muitas rosas que colheu e encheu seu manto, dirigindo-se novamente à presença do bispo. Quando ele abriu o mando espalhando rosas pelo chão todos se admiraram de ver a imagem da Virgem estampada no seu manto. Então sua história foi aceita e um santuário foi construído no local. Hoje Juan Diego é São Juan Diego.



Chegou a hora de conhecer Teotihuacán. Já eram 12:30h quando começamos a percorrer os 50km até a antiga cidade. Enfrentamos trânsito, passamos por casinhas pintadas em cores vivas formando um lindo conjunto montanha acima. Nosso primeiro contato foi com a instrutora América que nos mostrou e explicou sobre o maguey, uma planta extraordinária. Dela sai um líquido conhecido como agua miel que pode ser bebida e também, posta a fermentar, vira o pulque, bebida muito apreciada. Houve degustação e provamos de tudo. Também do maguey se tira uma película onde os antigos povos do México escreviam seus códices. Também uma fibra com que se faz bolsas, bucha para banho. Fiquei encantada com as possibilidades destas planta.
Enfim entramos na imensa e bela cidade de Teotihuacan. Duas imensas pirâmides se destacam: a da Lua e a do Sol. A vista de cima da pirâmide da Lua é magnífica. Uma avenida imensa se estende tendo pirâmides menores de um lado e outro. 


 O sol era forte. Óculos escuros, chapéu e filtro solar, itens essenciais. Não tive pernas para subir.


Mais à frente estava o Templo de Quetzalcoatl o deus mais querido destes povos, conhecido como a Serpente Emplumada. A serpente era considerada símbolo de renovação, vida nova, luz. Então começamos a andar e andamos, andamos, andamos. O Templo ficava no Portão 1 e não nos parecia tão longe visto do Templo do Sol. As pernas doloridas já andavam no automático. Mais uma escada, não tão alta, mas bem íngreme, surgiu como desafio para minhas pernas. Subimos em zigue zague como nos ensinou um nativo que vendia obsidianas e depois descemos por uma outra escada e lá estava a pirâmide de Quetzalcoatl. Toda a parede repleta de cabeças de serpente esculpidas entre outros motivos que reconheci o milho, alimento sagrado. Eu queria sentar ali e ficar admirando e sentindo a energia deste lugar maravilhoso.


 Havia um rapaz sentado bordando e perguntei a ele as horas. Quatro e meia, disse! Minha nossa! É a hora marcada para nos encontrarmos com o pessoal da van no Portão 4, almoçar e voltar. Ninguém mais havia se aventurado a sair do roteiro traçado. O Portão 4 fica perto da pirâmide do Sol! Procuramos no Portão 1 por um táxi e recebemos a informação de que não havia mais táxi a esta hora. Que fazer?  Um policial concordou em levar-nos por 100 pesos. Encontramos nosso grupo já na sobremesa. Almoçar as 16h é normal aqui, por isso não estava no roteiro uma parada para almoço que seria normal para nós, às 12:30h, antes de começar a visita a Teotihuacán. Não havia tempo para comer, então tomamos uma cerveja. Quando passa muito tempo a fome desaparece. Calor, cansaço e fome, mas acima de tudo alegria pelo maravilhoso passeio.

sábado, 23 de julho de 2016

Uma viagem ao México

                                                                  México

Entre meus sonhos mais caros sempre esteve o México. Seja nas músicas, nas tortilhas e tacos, tequila, mariachis, maias, astecas, Virgem de Guadalupe, heróis e caudilhos... Sempre vinham a mim objetos, filmes, festas, situações que me atraiam para o México. E foi com os olhos, ouvidos, boca e nariz que enfim, tive a alegria de conhecer este grande e surpreendente país.
Quando nosso avião pousou, uma voz vinda da cabine disse: "Bienvenidos a México!" Meus olhos se encheram de lágrimas. Pura emoção!
Primeiro mergulho: 15 dias na Ciudad de México. Imediatamente nos dirigimos para a Zócalo, a praça principal, onde tudo acontece. Ali estão o Palácio Nacional de onde despacha o Presidente da República e foi construído no local onde existiu o Palácio de Monctezuma II, imperador dos astecas; a Catedral Metropolitana, monumental, construída durante todo o período colonial refletindo vários estilos arquitetônicos; o Templo Mayor de Tenochtitlan que foi destruído depois da conquista espanhola e, em 1978, eletricistas trabalhando naquele local, descobriram uma estátua de pedra da deusa asteca Coyolxauhqui, Por sorte o Presidente da República na ocasião, José López Portillo, homem consciente da importância desta descoberta histórica, desapropriou os prédios do quarteirão e começou um grande trabalho de escavação arqueológica que descobriu 107 tumbas, cerca de 8.000 objetos que estão hoje em um museu anexo às ruínas.





Aquela praça enorme, efervescente é um espetáculo por si só. Em cada esquina há um tocador ou tocadora de realengo vestindo um uniforme caqui, o mesmo usado por Pancho Vila. A música saída daquele aparato enche a praça e o chapéu estendido informa que devemos pagar por aquela delicadeza. Uma banca de retratos de famosos está expondo suas obras em frente à Catedral. E vejo lado a lado Emiliano Zapata, Chalie Chaplin, Pancho Vila, Comandante Marcos, Elvis Presley, Che Guevara, Frida kahlo e Diego Rivera, os Beatles vestidos à mexicana, Marlyn Monroe, a Virgem de Guadalupe, Benito Juarez e outros mais. Diante daquela diversidade, compreendo que preciso conhecer mais sobre este país.
Tambores tocam no jardim ao lado da Catedral e para lá nos dirigimos. Eram jovens, rapazes e moças, vestindo trajes astecas com ricos toucados de pluma e figuras de animais de poder. Dançavam como seus ancestrais, conscientes de seu valor e origem. O cheiro do cobal, incenso usado desde o tempo dos astecas, vinha do altar de oferendas no centro da cerimônia. Muitas pessoas se aproximavam para serem purificadas. Também entrei na fila e fui abençoada à maneira asteca em meu primeiro dia no país.


De dentro do adro da Catedral havia também um grupo de dançarinos e para lá nos dirigimos. conversamos com um senhor que adornava seu toucado com plumas. Ele disse que dançavam para o deus que estava na Catedral, mas também para os deuses que estão embaixo. E não cobravam. Entendemos que os deuses astecas estão mais vivos do nunca, coisa que os conquistadores espanhóis  jamais poderiam imaginar depois de anos e anos de desestruturação da cultura asteca.
Cansados e encantados, tomamos um bicitaxi até o hotel Diligencias por 70 pesos.
Pedimos o jantar no quarto: tacos e uma limonada que comemos e bebemos com gosto antes de dormir um bom sono depois de dois dias de vigília.