domingo, 24 de fevereiro de 2013

Queima do Judas



          Depois de celebrar a Ressurreição de Cristo vinha a queima do Judas Iscariotes. Festa com participação popular que enchia as praças e ainda hoje enche. O povo delira com as várias representações do Judas, muitas vezes satirizando algum político. Ele desfila pelas ruas da cidade montado num burrinho, acompanhado por um homem vestido de mulher caricaturalmente. Esse personagem representa a mulher do Judas e chora o tempo todo. O cortejo é acompanhado por muitas crianças e várias outras pessoas. Alguém grita de tempos em tempos:
        - O Judas já morreu! E logo vem a resposta da meninada excitada correndo atrás:
        - Foi cachaça que bebeu! O cortejo segue pelas principais ruas do centro da cidade e para na praça onde está montada a forca.
          O Judas era então dependurado na forca e a execução esperava pela leitura do seu testamento. Em geral, o testamento era uma troça feita às pessoas da cidade, onde o condenado deixava um objeto para cada pessoa dizendo o porquê e o para quê de cada coisa. A leitura do testamento era sempre motivo de grande algazarra por parte da multidão, que se divertia com a brincadeira. A seguir o testamento do Judas de 1996, escrito por D. Maria da Conceição Santos:

Todo ano estou aqui, com esta cara de gambá
Fui trair o meu senhor, agora venho te tentar.

Êta festança boa! Corre gente, vem pra cá
Vai começar a partilha, das herança pra te dar.

Pró Seu Geraldo e pra Carmem, gente boa pra danar
Deixo um monte de flores, pra sua sala enfeitar.

Pras duas irmãs Peixoto, que são Doca e Sinhá,
Um par de sapatos bons que é pra elas caminhar.

Do nosso roxinho Tisiu, nosso sacristão mais querido
Deixo meu terno novo pra ele ficar todo mitido.

E as mocinhas da cidade, já é minha mania
Deixo pra elas camisinha e uma velha bacia.

Pro coral da Zizinha, esse nem vou falar
Com tanta cantoria, os gogó vão estourar.

Pros gatões da cidade, um pontapé vou lhe dar
Só não sei nem quero saber, o lugar que vai acertar.

Pro guarda da porta da igreja, esse eu quero deixar
A minha velha cadeira, que é pra ele descansar.

Pro Marcinho do MEC, tenho muita coisa pra dar
Deixo as mercadorias pra mais grana faturar.

Para Alice Ribas que é brava e faz a meninada rezar
Deixo o meu livro de música pro catecismo ensinar.

Pro Juarez lá da igreja deixo uns prato e umas caneca
Meu chapéu já meio velho pra tapar sua careca.

Pra essa gente debochada que gosta de falar e de rir
Deixo a dentadura banguela e uma garrafa de pinga.

Pro Vitor, aquele magrelo, mandei tudo que era meu
Vai enfeitar com certeza o tão visitado Museu.

Pra Maria costureira beleza, com carinho vou deixar
Uma máquina de costura pras minhas roupas costurar.

Pro jovem que é muito simpático chamado Carlos Caju
Deixo um fraque de veludo e a camisa de frufru.

Ah! Não posso esquecer de deixar pro Tenido que é muito parado
Deixo o meu forte pó de mico pra ele ficar animado.

E pro Cidinho e Vandico, figuras principais
Olha que fizeram pra mim essa maldita forca de pau.

Vou morrer arrebentado, com muita mágoa vou deixar
Minha viúva pra vocês e minhas coisas pra dar
Ta chegando a minha hora só o esqueleto vai ficar.


Quanto ao Padre Simões, com ele não brinco não
Se me jogar água benta, adeus Seu padre, não estou aqui  mais não.

O que não pode faltar nesse meu ponto de vista
Quero agradecer a abraçar os nossos queridos turistas.
                                         






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