segunda-feira, 25 de março de 2013

Histórias que gosto de contar


 FREI FRANCISCO
( Adaptação de caso narrado por Brito Machado em seu livro “Ouro Preto chronicas”

          Em meados do século XIX, chegou a Ouro Preto, vindo da Europa, um frade franciscano de nome Francisco. Além da língua que nunca aprendeu a falar  corretamente, tinha ele grande dificuldade de lidar com os negros, pois aqui os vira por primeira vez. Também os costumes da terra o assustavam muito.
          Ele era aquele tipo de padre que chegava no púlpito e ameaçava os pecadores com o fogo do inferno, pintava com cores cinzentas o purgatório e falava sempre das contas que os fiéis deveriam prestar no dia do Juízo Final. Essa era sua prédica constante nas missões que se realizavam na Igreja do Carmo para onde acorriam numerosos fieis atrás da fama de santidade do novo padre ou por medo de suas pragas.
          Nessa época havia muitas carpideiras e responsadeiras em Ouro Preto, algumas tidas como bruxas. Elas eram respeitadas por acumularem funções de adivinhas e feiticeiras.
          Carpideiras são mulheres que se reuniam para visitar as casas onde houvesse um defunto e ali choravam e lamentavam sua morte. Elas vestiam uma enorme capa preta e, na cabeça, um chapéu comprido sem abas.
         Responsadeiras eram mulheres que rezavam, murmuravam ou cantavam os reponsos, série de versetos geralmente tirados da Sagrada Escritura que intercalavam os ofícios da igreja. Dirigiam orações a Santo Antônio para encontrar objetos desaparecidos. As responsadeiras se vestiam como as carpideiras.
Quando chegavam a um velório, as carpideiras eram recebidas com uma espécie de poncho – laranja azeda com cachaça e açúcar – que elas enchiam uma caneca e se aproximavam do caixão, sem ter bebido ainda e exclamavam condoídas:
                  -  Ai! Coitado! Tão moço ainda! Podia viver muitos anos mais!
 E bebiam o poncho de um trago só. Então começavam as lamentações que iam pela noite adentro e seguiam o féretro até a tumba.
           Frei Francisco foi se informando daquelas esquisitices da terra. Sobre as responsadeiras diziam que elas judiavam muito com Santo Antônio, enforcavam-no atrás da porta, cozinhavam-no no feijão e algumas chegavam até mesmo a socá-lo no pilão. Imaginem vocês o espanto do santo frade ao ouvir essas coisas!
          À noite, com a Igreja do Carmo completamente cheia, ele gritava do púlpito:
          -Essas capoteirras... essas socadeirras de Santo Antônio... essas feiticeirras... está tudo no fogo dos infernos! Capoteirras... Longe de mim...vocês está tudo em caldeirras de água fervendo...
          O povo escutava assustado o sermão do frade e as “capoteirras” continuavam com sua profissão.
          O que o povo temia eram suas pragas. Contam que, ao lado da casa onde vivia Frei Francisco, morava um senhor que tinha um cavalo e a estrebaria era parede-meia com o quarto do frei. O animal dava patadas na parede a noite toda, perturbando frei Francisco que gostava de ficar até tarde preparando seus sermões ou lendo a Bíblia.
        Um dia ele mandou pedir ao dono do cavalo que tivesse a paciência de mudar o animal de lugar, porque o estava perturbando à noite. O homem respondeu que o animal estava na casa dele.
          Frei Francisco então soltou sua praga:
         - O senhor também há de ficar em sua casa!
          Dizem que o homem não conseguiu mais pôr os pés na rua.

          Os franciscanos moravam em frente à Igreja de São Francisco de Assis, na casa de Gonzaga. A casa chegou a abrigar até quarenta frades no início do século XX. Eles saiam, em missão, batizando e casando os amasiados. Alguns aceitavam se casar, outros soltavam cachorro bravo atrás dos frades.

                                                          *

3 comentários:

Marcos Luan disse...

Olá, assim como você também gosto de contar e ouvir histórias principalmente Lendas e Causos.
Gostaria de saber onde consigo comprar o seu livro "Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto" achei muito interessante após ver algumas histórias em um site. Se puder me informar eu agradeço.

Angela Leite Xavier disse...

Bom dia Marcos Luan,
Que bom receber seus comentários sobre as histórias que , não são minhas, mas do povo de Ouro Preto. Tenho este livro em todas as livrarias de Ouro Preto e em BH na Quixote e na Livraria Opus na Santo Agostinho. Um abraço

Angela Leite Xavier disse...

Bom dia Marcos Luan,
Que bom receber seus comentários sobre as histórias que , não são minhas, mas do povo de Ouro Preto. Tenho este livro em todas as livrarias de Ouro Preto e em BH na Quixote e na Livraria Opus na Santo Agostinho. Um abraço