2º ENCONTRO DE CERAMISTAS – CUSCO
RECEBE OURO PRETO
Aconteceu entre os dias 02/09 a
15/09 de 2013, o segundo encontro de ceramistas, desta vez em Cusco, Peru.
Rever este país depois de tantos anos era uma grande expectativa para mim. No
aeroporto já nos esperavam os amigos ceramistas Julio Gutierrez e Gustavo
Romero mais Anita, a esposa de Julio e Adolfito, o filho do casal. Qual não foi
minha emoção ao chegar à Plaza de Armas,
diante da Catedral! Não pude me conter, as lágrimas desceram de meus olhos. Foi
indescritível!
No Hotel Inca’s Inn, tínhamos
nossa reserva feita pelos amigos e um lanche com que nos brindaram – e ai teve
o dedo de Anita: tamales, té de coca, queijo e aqueles pãezinhos redondos
deliciosos tradicionais. Como se não bastasse essa recepção, ainda fomos
levadas ao adro da Igreja de São Cristovão, que fica no alto de uma montanha,
para que apreciássemos a vista da cidade ao entardecer.
Em seguida, fizemos um passeio a
pé pela Plaza da Armas e encontramos com o Vicente Rayo com seu filhinho de 3
anos, vindos de Cuyo Chico, especialmente para nos receber. Nobreza Inca! Fomos
tomar um poncho de abas com pisco e comer empanadas. Saudade desses sabores tão
especiais.
O sábado amanheceu ensolarado,
ruas cheias de turistas, tiendas abertas exibindo rico artesanato. O Julio nos
buscou para conhecermos seu atelier e, pelo caminho íamos parando, fotografando
e filmando até os sinais de trânsito, as
paradas de ônibus. A cidade maravilhosa com suas igrejas monumentais e eu me
lembrando dos lugares, querendo ver tudo. Felizmente ainda estão lá as mamitas
e papitos, vendendo suas mercadorias a cada esquina, artesanato, chicha, pisco, ponches. Passamos
pelo Mercado San Pedro e não havia como não entrar. Uma força nos puxou para
dentro. Passamos pelas tiendas das ervas onde comprei chocalho de unhas de
cabras, palo santo. Depois pelo departamento de grãos, de frutas que compramos
para o lanche – figos, pêssegos e ameixas - e tapamos os olhos para conseguir
sair dali. Havia magia demais pelo cainho entre o hotel e o atelier do Julio. E
nós caminhando decididas a não parar até que passamos pelo baratillo. Ah! O
baratillo só está ai no sábado. Vamos dar só uma olhadinha. E foi mesmo uma
olhadinha. Passamos por uma banca que vendia cerâmicas e compramos algumas
peças para pintar no nosso primeiro trabalho com a cerâmica maiólica,
especialidade do Julio.
O atelier é um espaço que engloba
uma galeria e vários galpões para cada fase do trabalho: preparo da argila,
moldes, torno, acabamento, pintura e queima. Fomos apresentadas a sua equipe de
trabalho: Juanito, Wili e Isac. Começamos no torno, passamos pelos moldes e
modelagem. Por fim pintamos as peças que havíamos comprado no baratillo.
Almoçamos papa a la huancayna que
nos preparou a Anita, tomamos cerveja cuzqueña, deliciosas, comemos bombons
caseiros e tomamos té de coca. À noite ainda saímos com o Gustavo para tomar
piscosawer e comer um petisco mexicano maravilhoso: tequeños .
Muita animação para 3.600 metros
de altitude. Mas até ai estava tudo indo muito bem. Dormimos como anjos porque
no dia seguinte, domingo, o Julio e Anita nos levariam a passear num lugar
encantado Raqchi, lugar da cerâmica.
Pelo caminho passamos por
pueblitos incríveis. E havia muita gente nas praças que vendiam de tudo. Comemos choclo com queso, pele de
porco com milho tostado. Maravilha do paladar.
Raqchi foi uma emoção tão grande
como a que senti ao chegar à Plaza de
Armas. O lugar é pequenino onde os terrenos são separados por muros de pedra
seca e em cada casa há um ceramista. E, como se não bastasse, um conjunto de
construções incaicas, surpreendente. Subimos ao ponto mais alto, Usnho, onde
tocamos a pedra sagrada e homenageamos a Pacha Mama. Bebemos de uma fonte de água
pura. Eu queria morar ali. A viagem de volta foi animada pelo Adolfito que
falava sem parar contando histórias, questionando situações de minhas histórias
e divertindo todos nós com sua inteligência e vivacidade.
Nossa exposição aconteceu no
Instituto Americano de Artes, prestigiado por artistas e intelectuais. Na mesma
semana houve um colóquio quando apresentei meu livro “Olhos de Estrela – Chasca
ñawi “ onde narro minha viagem a este país nos anos 70. Todos nós, expositores apresentamos
nossos trabalhos, o tema e as técnicas usadas.
Fomos convidadas a almoçar com o
diretor do Instituto Americano de Artes no Club Cusco ao qual ele é associado.
A casa é colonial, lindíssima, com ampla sala, belos lustres e uma escadaria
elegante que levava ao segundo piso onde foi servido um delicioso almoço.
Foi difícil conciliar o trabalho
no atelier com tantos atrativos que a cidade de Cusco e seus arredores oferecem.
Uma visita a Machu Picchu para Regiane e Neide que não conheciam, um passeio a
Chinchero que fiz com a Jacinta, passeios aos sítios arqueológicos ao redor da
cidade, os tantos museus e monumentos maravilhosos a visitar. E o Mercado de
São Pedro com todos os seus atrativos, as inúmeras feiras de artesanato e
tiendas fantásticas. Que tentação! Mas conseguimos fazer de tudo um pouco
atrapalhadas vez por outra pelo soroche, que resolvemos com comprimidos, folhas
de coca e caminando despacio. No atelier do Julio pudemos ver o resultado de
nosso trabalho nas lindas peças em maiólica que pitamos. Claro que não tinham a
perfeição das peças do Julio, mas para nós, foi uma glória.
Etapa seguinte, visitar Pisac e
nossos anfitriões José Carlos e Vicente. Chegamos cedo e fomos recebidas pelo
José Carlos que nos havia reservado uma surpresa: a visita a Intihuatana, conjunto
majestoso de uma cidade inca muito bem preservado. O vento quase nos derrubava.
Subimos, subimos, subimos e, lá no alto nossos cabelos ficaram literalmente de
pé rodopiando com o vendaval. Depois descemos, descemos, descemos. Ao final,
minhas pernas estavam “doces” numa expressão bem ouro-pretana. Vicente nos aguardava com o seu forno a lenha preparado para a
queima. Quando o fogo estava alto seguimos para sua casa e, no pátio ele
acendeu uma fogueira e nós ao redor tomando chá. Isso foi só o começo. Pouco
depois chegou Pablo, o xamã que ele convidou para fazer um ritual para a Pacha
Mama. Cantamos muitas canções em espanhol e português e tomamos uma deliciosa
sopa de quínua com tequeños. Só então começou o ritual. E foi fantástico!
No dia seguinte, visitamos uma escola onde é desenvolvido um
trabalho com as crianças e nós seríamos as professoras de cerâmica naquele
domingo. Visitamos também uma família que terminava seu plantio de milho e
comemoramos com ela tomando uma chicha.
Acolhidas pelo José Carlos na
pousada de sua família Pisac Inka, nos despedimos da companheira Regiane e
reiniciamos nossa peregrinação pelos ateliers de cerâmica, desta vez o de
Gregório Bezerra. Exímio oleiro ele nos brindou com sua habilidade confeccionando
belas peças. Depois foi nossa vez na aventura de tornear. Aprendemos a fazer
pincéis de pelo de gato, pintamos
motivos incas e polimos no torno. Coisa muito delicada e linda. O Vale Sagrado
tem segredos que só desvendados em companhia de quem vive ai. Assim passeamos
pelas orillas del Vilcanota, por San José, Urcos e Tarae. O Museu Comunitário
de Pisac é uma iniciativa pioneira de registrar a cultura local. E fomos
convidados a levar nossa exposição de cerâmica para lá após finalizar a mostra
de Cusco.
De volta a Cuyo Chico, desta vez
para trabalhar. Preparar o barro, amassar, colocar as tiras na estressora e o
fio que sai é cortado e se transforma em contas de vários tamanhos e formas.
Depois pintamos com a ajuda do Vicente e da Tânia que, além disso, prepara
deliciosa comida típica. Ai mesmo fizemos a despedida da Jacinta com um almoço
peruano e brasileiro. Para nossa surpresa vieram os amigos de Cusco e os de
Pisac tornando a festa animada que terminou com um huayno dançado por todos nós
de mãos dadas numa dança circular de confraternização. Antes de voltarmos para Cusco, Anita, sempre
dinâmica e competente, nos fez a todos uma proposta: fazermos um monumento de 7
metros de altura em algum lugar no Peru com a participação de ceramistas de
toda a América. Escreveu um documento e todos nós presentes, assinamos. Pensei
imediatamente em Raqchi – fazer cerâmica.
Será que terminara nosso
encontro? Estaríamos eu e Neide, de férias para passear? Sim e não. O José
Efigênio chegou e ainda desmontamos a exposição no Instituto Americano de Artes
e levamos para Pisac, montamos e ficamos para a abertura. Em Cusco
novamente, visitamos Museus, igrejas,
San Blas, a Catedral, fizemos compras, comemos no El Tiburón um
delicioso ceviche. E ainda assistimos a uma incrível festa de iniciação de
jovens, Warachikuy, em Sacsayhuaman, uma tradição do tempo do Império Incaico.
E depois, ainda voltamos a Pisac
para receber um Diploma da Alcaidia pela
nossa participação na comemoração dos 4 anos de existência do Museu
Comunitário. Bela homenagem que muito nos honrou. Desmontamos a exposição e ai
ficou uma peça de cada uma de nós.
Mas não terminou ai nossa tarefa.
A Escola de Belas Artes convidou a mim e Neide para falar aos alunos sobre a
importância da cerâmica, as infinitas possibilidades do barro. A sua importância
na arte tradicional peruana. Com o José Carlos fomos ao departamento de
cerâmica onde nos aguardavam os professores e um grupo de alunos. Falamos, mostramos o vídeo e vi olhos
brilharem. Agora sim, missão cumprida no nosso último dia em Cusco.
Cusco, Plaza de Armas, San Blas,
Mercado San Pedro, Sacsayhuaman, Ollamtaytambo, Chinchero Pisac, Tarae, lugares
mágicos! Julio, Anita, Adolfito, Juanito, Wili, Isac, Gary, Gustavo, Nati,
Sandro, Arnold, José Carlos, seu pai Florentino e irmãs, Gregório e Florência,
Vicente, Tânia e Wari. Amigos queridos, gentileza, hospitalidade! Festas,
festas e mais festas. Rocoto relleno, papa a la huancayna, ceviche, choclo com
queso, trucha grellada, sopa de quínua, soltero, abas, tequeños, ufa, com
tantas delícias vamos voltar mais rechonchudas para o Brasil.
Obrigada amigos pela bela
temporada em terra dos Incas! Salud!
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